I
they told you a lie you walked back
three steps on the pier’s treacherous boards
still trying to balance like a cat
it was winter and you only jumped
not to disappoint them or was it because
of the pendulous certainty
that for everything there’s a rope or something
connecting us to being alive
the other was a man of the tribe of levi and he asked to stay
many years later you sat in his vacant place
one hundred and twenty years in the intact place of death
suspended above the patriarch’s silver head
facing michael he said lord
not yet and michael left and on his return
brought with him the angel of death and he
said lord not yet take the angel back with you
it’s not time yet peter told
this story to me in a pub and laughed because
he thought it was a joke about rabbis
i lit up a cigarette and unusually for me said nothing
the vacant place a century suspended
above your head mosheh said
why was I pulled from the waters and left
to grow up among strangers I would be law-abiding
and come back because anguish so
burdened me so unbearably and I
will never forget this will never
forget you three glasses of vodka
later the lie not to hurt you
and as always a backpack
and a plane ticket in the pocket
he came in to this first floor studio
and they sat next to each other the old
postcards the box holds what doesn’t breathe
I saw the strength of the hand that pulled him out of the water
and he didn’t belong didn’t belong to my lineage
I wasn’t one of the men of the house of levi
I didn’t ask him to stay the city seemed
impossible to them in the glass its reflection imperfect
and later the darkness stuck to the mirror I went back
to the house I had rented in damascus my blind
foot on the accelerator anguish
is a fast thing so much too much
his faint outline fracturing in my iris
II
it was certain that one day
his voice would cease to exist in the house
rubbed out like all the petals
those men of levi were different from all the others
the one from alexandria said to me towards the end
(I thought him a moraliser and a dead bore
and never wanted to learn much from him)
because they were the keepers of the temple
they were due the honour
of the first-fruit but honour is sometimes
bought for very little and easily lost
he was about to tell who can save us from the anguish
of being alive but stopped himself
for the rest of the time much less
than one hundred and twenty years I sat
before him took from his hands
what I could learned as much as possible tuned
the harmonica and played a lingering sound he said
sarah grew old beside me no one
sent her a herald the warning the possibility
to shout wait not yet and for her it was as if
none of that existed or even mattered
and he said she had kept those thoughts to herself
as a first-fruit sacrifice she was the concern
of that covenant the strength attached to memory the truthful
body that slept by my side on the narrowest bed
when I was still very young and considered myself an apprentice of things
and the rope which always snaps by the weakest threads
there’s no sure course the most perfect angel guards
our most definite demise I heard what I wanted
and thought no more of them or of any of that
in his eyes lay that lonesome place
kept for the most indefinite waiting
for the only sensible explanation
© Translated by Ana Hudson, 2012
that was all there was to it
I
eles contaram-te uma mentira voltaste para trás
os três passos nas falsas tábuas do cais
ainda tentaste o equilíbrio do gato
era inverno e saltaste só para não
os desapontar ou porque foste
trazida de volta pela certeza pendular
de para tudo haver uma corda ou alguma
coisa que nos liga a estarmos vivos
o outro era um homem da tribo de levi e pediu para ficar
muitos anos mais tarde sentaste-te no seu lugar vazio
cento e vinte anos e o lugar da morte intacto
suspenso sobre a cabeça branca do patriarca
diante de miguel ele disse senhor
ainda não e miguel partiu e voltando
trouxe com ele o anjo da morte e ele
disse senhor ainda não leva o teu anjo de volta
ainda não é a hora peter contou-me
num pub esta história e ria-se porque
achava que se tratava de uma anedocta de rabis
eu acendi um cigarro e contra costume calei-me
o lugar vazio um século suspenso
sobre a tua cabeça mosheh disse
porque me puxaram das águas e me abandonaram
entre estranhos para crescer eu seria um homem
de leis e eu de volta porque a angústia me pesava
tanto tão insuportável eu nunca me hei-de
esquecer disto eu nunca me hei-de
esquecer de ti três copos de vodka
mais tarde a mentira para que não te magoasse
e como tinha sido sempre a mochila
nas costas e um bilhete de avião no bolso
ele entrou nesse estúdio num primeiro
andar e sentaram-se lado a lado os postais
mais antigos a caixa contém o que não respira
eu vi a força da mão que o puxou da água
e não me pertencia não pertencia à minha linhagem
eu não era um dos homens da casa de levi
eu não lhe pedi para ficar a cidade para eles
parecia possível no vidro o seu reflexo imperfeito
e mais tarde negro preso no espelho voltei à casa
que tinha alugado em damasco o pé
cego sobre o acelerador a angústia
é uma coisa veloz tão demasiado rápida
a sua silhueta ténue despedaçada na íris
II
havia isto a certeza de que um dia
a sua voz deixaria de existir na casa
apagada como todas as pétalas
os de levi eram diferentes de todos eles
o de alexandria disse-me isto quase no fim
(eu que o achava moralista e mortalmente chato
e com ele quis sempre aprender muito pouco)
porque eram os que guardavam o templo
aqueles a quem também era devida a honra
dos primeiros-frutos mas a honra compra-se
às vezes por muito pouco e facilmente se perde
ele ia dizer quem nos salva da angústia
de estar vivo mas deteve-se
pelo resto do tempo muito menos
do que cento e vinte anos sentei-me
diante dele tirei-lhe das mãos o que lhe podia
ter tirado aprendi o possível afinei
a harmónica e toquei arrastadamente ele disse-me
sarah envelheceu ao meu lado ninguém
lhe enviou um arauto o aviso a possibilidade
de gritar espera ainda não e para ela era como
se nada disso existisse ou importasse sequer
e ele disse tinha guardado para ela esses pensamentos
como um sacrifício de primeiros frutos ela era o cuidado
desse elo a força presa da memória o corpo verdadeiro
que dormiu ao meu lado na cama mais estreita
quando eu era ainda muito rapaz e me achava aprendiz de coisas
e a corda que se rompe sempre pelos fios mais fracos
não há um rumo o anjo mais perfeito é o da nossa
mais certa destruição eu ouvi o que queria
e não tornei a pensar mais neles em mais nada disso
havia nos olhos dele aquele lugar sozinho
guardado para a espera mais incerta
para a única explicação que fazia sentido
in teatro de rua, 2013