Those yellow-foot Seagulls above Lisbon
choose the most favourable flight path
to respond to the tides’ movements
and to over-swim the spaces filled
with the liturgical echoes of labour

They treat the places like equinoxes
as they wait on the quay for the columns
and for the mullets jumping from the boats
that break out from the wind ballast

And by night, the yellow-foot seagulls
are royally free
seducing the hills with their beaks
and transgressing the clean name of the city

They quack and confront the nasal sounding places
and ask awkward questions
exceeding all permitted areas
and insulting the stone’s immobility

They discourse on dodgy roofs
and throw laughter like hisses
confounding the streets’ features while
accepting enticement likes promises

And the city takes time to recover
as it seeks sensible answers
for the swift devastation lying underneath
the uncompromised seagulls’ feet

© Translated by Ana Hudson, 2012

 

As Gaivotas-de-patas-amarelas sobre Lisboa

As Gaivotas-de-patas-amarelas sobre Lisboa
Escolhem o voo mais favorável
para responder à oscilação das marés
e sobrenadar os espaços ocupados
pelo eco litúrgico do trabalho

Tratam os sítios como equinócios
quando esperam no cais pelas colunas
e pela tainha a saltar dos barcos
que eclodem no lastro do vento

E à noite, as gaivotas-de-patas-amarelas
tão soberanamente livres
seduzem as colinas no bico
e transgridem o nome limpo da cidade

Grasnam e afrontam os sítios nasalados
e fazem perguntas inconvenientes
excedem todos os lugares admitidos
e insultam as pedras na imobilidade

Discorrem pelos telhados suspeitos
e lançam gargalhadas como assobios
baralham as fases das ruas enquanto
aceitam convites como promessas

E a cidade demora a recompor-se
a tentar encontrar respostas sensatas
para a rápida devastação por debaixo
das patas das gaivotas descomprometidas

in O Livro das Aves, 2009