What can a hedonistic and surly sceptic do
in the country of sacred art? How can he
escape the notion that these games of
volume, these vividly coloured
layouts, represent all he doesn’t
believe in: fanaticism, eternalife,
the sacrifice of the body? He prowls
the rooms like a famished dog,
desperate for a field of beans, and can’t
find in such exotic and senile mythology
firm enough flesh in which to sink his thoughts.
Annoyed, he speeds up, more and more
impervious to the seraphic beauty
of the breeding madonnas, their patronising
smiles, to the never ending parade
of agonies, ascensions and pietas,
and he desperately searches for Bronzino’s
belles dames, the sweet Venuses or even
the hard faces (but human, at least)
of burghers, mercenaries and noblemen:
messengers of the real, of the violence
of desire masked as lordliness.
On the way out he is stared at by the drunken
smile of a futureless rogue,
by the starving eyes of a fifteen stone
Maggie, by two shards in search
of essential glue. And he promises
to St. Vermeer to undertake very soon
an expiatory pilgrimage to the terrain,
the liberal and levelled new world
of Dutch seventeenth-century painting.

© Translated by Ana Hudson, 2011

 

‘Uffizi’

Que faz um céptico hedonista e quezilento
no país da arte sacra? Como pode
libertar-se da noção de que estes jogos
de volumes, estes planos vivamente
coloridos, representam tudo aquilo em
que não crê: o fanatismo, a videiterna,
o sacrifício do corpo? Deambula
pelas salas como um cão esfomeado
por um campo de tremoço, sem achar
em tão exótica e senil mitologia
firme carne onde ferrar o pensamento.
Irritado, estuga o passo, cada vez
mais insensível à seráfica beleza
das madonas parideiras, de sorriso
complacente, ao intérmino desfile
de agonias, ascensões e pietás,
procurando avidamente as belas damas
de Bronzino, as doces Vénus ou até
o rosto duro (mas humano, pelo menos)
de burgueses, mercenários e fidalgos:
emissários do real, da violência
do desejo deturpado em senhorio.
À saída é contemplado pelo ébrio
sorriso dum velhaco sem futuro,
p’lo olhar esfomeado duma Maggie
de cem quilos, por dois cacos à procura
duma cola essencial. E promete
a São Vermeer cometer a breve trecho
expiatória romagem ao terreno,
liberal e nivelado mundo novo
da pintura de seiscentos holandesa.

in Erros Individuais, 2010